"Existem livros que nos fazem rir, outros que nos fazem chorar. Bem, João Piedade dá-nos tudo isso em metade das páginas que autores menos hábeis utilizam. Eu ri-me perdidamente a ler este livro (juro, expressões como "gritou tão alto que até o vidro de uma janela se rachou" fizeram-me deitar litros de leite pelo nariz), eu ria-me na introdução, nas partes divertidas, nas partes tristes e nas outras pelo meio. Eu ri-me durante um par de horas depois de acabar o livro e dois anos depois ainda sorrio. Mas com este livro eu também chorei; pelo abate das árvores, pelo dinheiro gasto, pelos frequentadores de livrarias incautos, que não sabem o que lhes espera."
É preciso ter cuidado a comprar livros em Portugal... o livro acima, na Amazon UK, custa agora 6.99£. Mais 6% de IVA, fica 7.41£, que o Google diz que agora é à volta de 8.86€. Como o conversor da Amazon dá um cheirinho para cima, digamos que fica em 9.50€. Mais umas encomendas para que chegue aos 30€, e não se paga os portes.
Vou ao Wook, e exactamente o mesmo livro, com a mesma capa, e em inglês, custa 31.40€. What??? Depois de ver os detalhes é que se percebe: é versão capa dura, daí o "disparo". A versão capa dura na Amazon até fica mais cara em comparação (à volta de 33€).
Mas na página de resultados, está um livro com o mesmo título, mas com uma capa que não tem nada a ver ("36 Views of the Eiffel Tower", é o que diz a imagem da capa). É o mesmo livro, versão paperback, mas enganaram-se na imagem da capa. Este já tem um preço decente: 11.92€, com 5% de desconto.
Tenho ouvido dizer que o teatro anda pelas ruas da amargura, como quem diz, está com dificuldade em convencer as pessoas a ir às peças. E acabei de ler um parágrafo que me lembrou dessa situação:
(contexto - o texto vem de um livro que tem uma espécie de peça, em que os personagens são 5 escritores dramáticos do século XX, que conversam uns com os outros)
"IONESCO: [...] Vocês querem elucidar os outros porque julgam ter compreendido o mundo. Nós, pelo contrário, sabemos que não o compreendemos. [...] isso faz-vos abraçar o mundo alucinado dos vossos sistemas explicativos.
BRECHT: E o que é, então, o objectivo de um drama, se não é o esclarecimento? [Convém dizer que Brecht era um Marxista convicto]
SHAW: O contrário do esclarecimento, ou seja, mistificação!"
A "peça" continua nisto um bom bocado, a explicar o teatro de cada um. E ao que parece, o que estas personagens descrevem é o que "melhor" se fez de teatro no século passado.
Isto lembrou-me da minha última experiência de teatro. Vi duas peças numa espécie de festival, uma a seguir à outra. A segunda até foi gira, pegaram na história do Drácula e tentaram fazer uma comédia disso. Já a primeira, foi propaganda comunista disfarçada de história para crianças. Muito mau.
Terminei de ler o SuperFreakonomics. Embora o livro tenha algumas secções muito criticadas e até erradas (i.e., a parte sobre o aquecimento global), o livro retrata bem o tema principal, a natureza humana. E mais uma vez, fiquei com a ideia que é muito útil e do nosso próprio interesse conhecer-mos muito bem a nossa própria natureza.
Como é dito no próprio livro, acerca da pessoa que tinha proposto pela primeira vez os cintos de segurança para os automóveis:
"...tinha esbarrado contra um dos dogmas centrais e mais frustrantes da natureza humana: é difícil mudar os comportamentos [...] uma solução simples e barata para um problema, talvez não resulte se implicar que as pessoas mudem o seu comportamento."
São aspectos como este que estão por detrás das experiências descritas no livro, de uma ponta à outra. Outro exemplo, este muito famoso. Em 1847, Ignatz Semmelweis descobriu uma maneira de diminuir significativamente o número de mortes durante os partos, tanto dos bebés como das mães. A solução: obrigar os médicos a desinfectar as mãos antes do parto. Resultado:
"a taxa de mortalidade na maternidade do Hospital Geral de Viena baixou a pique quando Semmelweis ordenou aos médicos que lavassem as mãos após realizarem autópsias. Contudo, os médicos dos outros hospitais ignoraram as suas descobertas. Chegaram até a ridicularizá-lo. [...] Além disso, os médicos dessa época [...] não conseguiam aceitar a ideia de que eram eles próprios a raiz do problema."
Entretanto já passou um século e meio. Como andam as coisas?
"Uma série de estudos recentes demonstrou que os funcionários hospitalares lavam ou desinfectam as mãos menos de metade das vezes em que deveriam fazê-lo. E os médicos são os piores infractores, mais complacentes do que os enfermeiros ou os assistentes."
"Este fracasso é intrigante. No mundo moderno tendemos a acreditar que a melhor forma de corrigir os comportamentos perigosos é através da educação. É esse o raciocínio por trás de praticamente todas as campanhas de sensibilização pública."
"Porque razão é tão difícil mudar esse comportamento quando o preço a pagar pelo cumprimento das regras [...] é tão reduzido e os potenciais custos do incumprimento [...] é tão alto? À semelhança do problema da poluição, a resposta radica uma vez mais nas externalidades. Quando um médico não lava as mãos não é a sua própria vida que fica primariamente em perigo mas sim o próximo paciente que ele tratar. [...] os médicos [...] não dispõem de incentivos suficientes para lavar as mãos."
Agora vem Aristóteles, que vem contrapor o ideal "comunista" e "igualitário" de Platão:
"Em geral, partilhar a vida de outrem, colocar tudo em comum, é para o homem uma empresa difícil entre todas [...] Os possuidores de bens comuns ou indivisos têm entre si conflitos muito mais frequentes que os cidadãos cujos interesses estão separados".
Sobre a ideia de Platão de privar os cidadãos de qualquer tipo de propriedade privada:
"Se agradável e socorrer amigos, hóspedes e companheiros é o maior dos prazeres, que não se pode experimentar se não se possuírem bens privados".
Sobre o ideal comunitário de Platão:
"[Como] se de uma sinfonia se quisesse fazer um uníssono [apenas um som, porque a cidade é] uma pluralidade que, por meio da educação, deve ser conduzida a uma comunidade, a uma unidade".
À primeira vista, esta oposição entre Platão e Aristóteles faz lembrar o "comunismo" vs "capitalismo", mas havia uma coisa em que Aristóteles estava de acordo com Platão: ambos desprezavam a fixação na acumulação de riqueza. Então o que os diferenciava? Ao que parece, tem tudo a ver com um certo pragmatismo e a maneira como se encara o "divino":
"Aristóteles rejeita a [...] ideia de que o homem participa em dois mundos distintos, o visível e o invisível. Para ele, o homem está inteiramente mergulhado no mundo natural. A alma individual desaparece ao mesmo tempo que o corpo. [...] Não há nenhuma comunicação, nenhuma passagem, do divino ao terrestre".
Tive Filosofia na escola, li o Mundo de Sofia, e é a primeira vez que vejo este lado destes Gregos Antigos. Provavelmente, porque os livros onde Platão e Aristóteles falam disto chamam-se Leis e Política. Lembra-me quando o Malstrom disse que "pessoas que lêem o Phaedrus [cujo tema é o "amor"] de Platão ficam por aí e não lêem as Leis de Platão".
Segundo as Leis de Platão:
"«O nosso fim essencial é estabelecer a amizade entro todos os cidadãos da cidade»; qual é a organização económica e social apropriada para esse fim? «O verdadeiro meio», responde Platão, «é a comunidade absoluta dos bens, das mulheres e dos filhos», porque «entre amigos tudo é comum». O comunismo é-nos assim apresentado desta vez como um ideal de alcance geral."
"«Um meio mais fácil de instaurar a amizade entre os cidadãos é atribuir a todos propriedades iguais e obrigá-los a todos a levarem uma vida identicamente frugal.»"
"A base da organização social será a família monogâmica, mas uma vida cuidadosamente controlada pelo Estado: o adultério será punido e defendida a honra das mulheres; cada casal deverá possuir uma habitação separada; em caso de incompatibilidade entre os esposos, poderão separar-se, mas cada um deles deverá casar-se então com cônjugue designado pelo Estado (pensa-se assim evitar divórcios muito numerosos). A cada família será atribuído um lote de terra idêntico, que não poderá ser alienado e deverá ser transmitido a um só herdeiro;"
"Este sistema implica, evidentemente, que todos os cidadãos sejam agricultores e, por outro lado, que o seu número de mantenha rigorosamente o mesmo. «Efectivamente», declara Platão, «na cidade deverão existir sempre exactamente 5040 cidadãos, número escolhido porque é divisível por todos os números de 1 a 12, excepto o número 11, o que deve facilitar o trabalho administrativo»" pág.37-38
Isto não me ensinaram nas aulas de Filosofia!
Sobre o trabalho de Platão:
"O conhecimento do que é bom e justo para o indivíduo e para a cidade é o conhecimento mais alto, e o único verdadeiro. O conhecimento imediato pela via dos sentidos só conduz a opiniões superficiais sobre as coisas. O conhecimento matemático já é superior. Entretanto apoia-se em postulados não justificados e não pode explicar integralmente o mundo visível onde nada permanece. A geometria, sobretudo, é um bom instrumento de preparação para o exercício da sua mais alta faculdade, a inteligência, ou a razão. A razão pela via da discussão e da dialéctica atinge o conhecimento do bem, nomeadamente do bem político que é a justiça." (pág.41-42)
É preciso ter em conta como é que Platão via o Universo. Para ele, nós, como pessoas, não podíamos inventar nada, pois já estava tudo inventado desde o início do tempo. No máximo, podíamos lembrar-nos dessas "ideias" originais, que existiam num outro plano de existência, o "mundo das ideias". Daí a "aversão" de Platão ao mundo real, pois era só uma sombra do mundo ideal. Daí também a ideia de defender a discussão pura, sem ter demasiado em conta o "conhecimento imediato pela via dos sentidos", como única forma de chegar a essas ideias originais. A Filosofia hoje em dia perdeu muita da relevância que tinha, e se ainda seguir esta ideia, não admira porquê.
"Esta concepção de uma ciência política modo supremo e perfeito do conhecimento, ao mesmo tempo que única ciência verdadeiramente importante, pode hoje surpreender-nos, dado que estamos habituados a admitir, ao contrário, que a ciência política (de que a economia política é um ramo particular) deve procurar imitar as ciências exactas, muito mais perfeitas, e que raramente o consegue." (pág.42)
Não será tanto a ciência política "imitar" as ciências exactas, mas usar uma metodologia semelhante para chegar ao conhecimento. E as ciências políticas têm muito a ganhar (e já ganham) ao ir buscar conhecimento já descoberto em áreas como as neurociências e a psicologia, que ajudam a perceber melhor como é que o ser humano funciona. Afinal de contas, é este o tema das ciências políticas: o ser humano, e como podem muitos seres humanos viver em conjunto (de preferência, no seu melhor interesse).
"Todavia, o ponto de vista de Platão merece ser considerado com muita atenção. Para ele, o que importa ao homem é conhecer-se a si próprio. Em seu entender, é muito mais importante esclarecer os princípios de uma constituição justa do que descobrir leis naturais do mundo físico." (pág.42)
É a ideia de que é preciso primeiro as pessoas estarem suficientemente conscientes/educadas, de termos uma sociedade pacífica, antes de termos conhecimentos para matar mais e melhor. O que faltou considerar foi que os conhecimentos do mundo físico também poderiam ajudar as ciências políticas.
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